Como dito pelo poeta, “Há canções e há momentos, que eu não sei como explicar”.
As canções fizeram a minha vida, e eu fiz das canções, a minha vida, seguindo por uma estrada mágica que me levou a momentos inesquecíveis. Assistir ao novo filme da Volkswagen Brasil ontem, com Maria Rita e Elis Regina, tornou-se um desses momentos, que eu não sei como explicar.
De cara, a lembrança do final de 1981. Novembro, Belo Horizonte. Milton, então morador da cidade me liga e diz: Elis tá vindo fazer o Trem Azul aqui e eu quero fazer um almoço pra ela aqui em casa. Me ajuda? Arregimentamos cozinheiro, amigos e no sábado, por volta das 13h tocou a campainha da cobertura onde Milton morava, em BH. Abri a porta para Elis, Samuel,
Pedro Mariano – um garotinho- e, no colo, Maria Rita, de oclinhos com tapa-olho, toda virada pra trás, no meio de uma birra espetacular. Paralisada com a cena, só consegui dizer: Oi Elis, quer ajuda?
-Não meu bem , essa encrenca é só comigo. Tem um quarto onde eu posso colocar ela pra dormir?
Tinha. Um quarto confortável e escurinho onde Maria Rita, que estava só com sono, dormiu a tarde toda. Elis subiu com Samuel e Pedro pro segundo andar, onde ficava a piscina e a sala de som e na vitrola, tocava sem parar o álbum “Caçador de Mim”, último lançamento de Milton. Feliz com o elenco que estava na casa do Milton, ela não ficou. Eram todos amigos, mas com certeza, quando topou o convite pro almoço, Elis só queria ficar com Milton, colocar a conversa em dia, nesse que acabou se tornando, o último encontro dos dois. Mas o amor dela por ele era tão grande (e recíproco), que ela aguentou firme. Pelo menos até na hora que alguém tirou a agulha do álbum “Caçador de Mim” que tocava em looping, então na faixa “Amor, Amigo” e ela gritou:
– “Deixa essa porra tocando!!!!”
A partir daí, em pouco tempo ela pegou Pedro, que já havia comido quase todos os pães de queijo colocados na mesinha da sala, Samuel, Maria, que continuava dormindo, e foi embora. Sem almoçar. Já passava das 4 da tarde….
Anos depois, reencontrei Maria Rita já pré-adolescente, em 1988, pouco tempo antes de se mudar com o pai e família para os Estados Unidos. Naquele momento, recebi do César Mariano e da Flávia, a honrosa incumbência de representar o espólio de Elis,Regina em nome de todos os herdeiros, o que faço até hoje em nome de João Marcello, agora com a parceira das dras. Adriana Vendramini , representante de Pedro e Danielle Póvoas, representante da Maria.
Com ela, que eu sempre chamei de Rita, foram vários encontros e muitos momentos inesquecíveis, inexplicáveis, como por exemplo quando ela decidiu que o chamado da música era mais importante que tudo em sua volta para o Brasil em 1999. Em muitos momentos de “primeira vez”, como por exemplo quando ela subiu ao palco com Milton no show em homenagem aos 30 anos do “Clube da Esquina” em São Paulo e cantou “Encontros e Despedidas”. Quando gravou com ele no álbum” Pietá” e na noite anterior, na minha casa onde ela ficava sempre que vinha ao Rio, teve febre de quase 40 graus. Quando ela hesitou em abraçar o legado da mãe em razão da surra que vinha tomando desde que lançou o seu primeiro trabalho como cantora, talvez numa das primeiras e mais absurdas campanhas de hate que eu presenciei, mas se jogou, mesmo assim, no projeto “Viva Elis”, desenhado e produzido por João Marcello, que resultou posteriormente no álbum “Redescobrir”, onde pela primeira vez, gravou o repertório de Elis Regina de uma forma tão pungente e extraordinária que calou definitivamente as últimas vozes que se levantavam contra ela da maneira mais estúpida possível. O tempo seguiu, Maria Rita continuou pavimentando seu caminho com paixão, compromisso e sem medo, sendo hoje, merecidamente, um dos mais importantes nomes da Música Brasileira. Graças a ela mesmo.
Ao assistir pela primeira vez o filme da campanha da Volkswagen ontem à noite, vários gatilhos dispararam dentro de mim por toda a simbologia do filme que vai muito além do intuito óbvio de emocionar o público e reapresentar uma marca e seus produtos, que fazem parte da memória afetiva de todo o brasileiro. Quem nunca teve um Volks, ou uma história querida com um Volks na vida, que atire a primeira pedra!
Que estrada, Maria! E como você merecia esse encontro! Bravo, Volkswagen Brasil, por proporcionar, nas palavras da própria Maria Rita, a realização desse sonho que está, desde ontem, encantando todo o Brasil. Bravo, Almap BBDO, pela ideia e pela maneira delicada e potente com que ela foi realizada.
Que filme! E que momento especial para ele chegar falando de afeto, de legado e, principalmente, enaltecendo o que o Brasil tem de melhor, a sua alma, a sua gente, a sua música. Viva Elis!
Marilene Gondim
(diretora MRG)